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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Cartas



Campos do Jordão, 22 de julho de 2014.

Roberta,

Hoje faz um frio danado aqui em Campos. Precisei tirar as luvas, gorro e cachecol da mala. Sentei naquela cafeteria que ficamos horas da última vez que viajamos pra cá. A cidade está lotada de turista com seus celulares de última geração. Quando estávamos aqui da última vez nos divertimos com o seu celular nada tecnológico que rendeu boas fotos cortas, sem foco e luz. Trouxe alguma dessas fotos comigo. Sei que você vai dizer. Não diga. Apenas escute (se puder fazer algo, faça isso).
As pessoas passam de um lado para o outro, vejo casais fazendo juras de amor eterno. O brilho no olhar deles é incrível. Confesso, às vezes bate até uma inveja. Sinto falta de ter alguém em meus braços, alguém para contar como foi meu dia. Alguém para sair e pedir sempre o mesmo prato no mesmo restaurante. Alguém para dizer o quanto meu trabalho é estressante. Sei que posso encontrar uma pessoa assim, as pessoas estão sempre encontrando por aí. Talvez seja pelo conceito de amor que eles têm. Eu acho que amor de verdade a gente só encontra uma vez na vida. Aquele que sobe um frio na barriga e que o coração chega até doer de tanto amor que ali tem.
Existem amores, esse a gente acaba encontrando por aí como quem não quer nada, mas na verdade estávamos procurando feitos loucos. O café fica gelado quando nos esquecemos de tomar em determinados intervalos. Vi sua foto ontem. Você estava linda, com os cabelos pretos caídos nos ombros, essa cor te caiu bem. Vi que viajou. Vi que conheceu novas pessoas e até encontrou um novo amor. Eu também conheci pessoas, fiz novas amizades e encontrei um possível amor. Só tenho medo de ficar comparando a você. Como já disse, amor verdadeiro a gente só tem uma vez na vida... Talvez encontre um amor que possa preencher 1% do coração e faça valer a pena.
Eu sei, você está pensando o quanto eu sou meloso e fico fantasiando por aí. Para você a vida é tão prática, a gente conhece alguém, acha interessante e se conviver por um tempo o amor cresce. Aí, se vale a pena casamos, construímos nossas vidas. E levamos no peito o aperto de ter deixado aquele amor que realmente era amor, que tirava os pés do chão e que sacudia a vida.
A vida às vezes não nos dá segundas chances. Segundas chances disfarçadas de terceiras, quartas, quintas, sextas, sétimas, oitavas... Às vezes ela nos dá segundas, terceiras, quartas, quintas, sextas, sétimas e oitavas pessoas, para gente tentar aceitar o que não conseguiu com a primeira. Acho que isso nos faz ainda mais sentir falta daquela primeira pessoa.
O frio está cortando meus lábios e é impossível escrever com luvas. Vou voltar ao hotel. Espero que me responda. Diga que está feliz, que encontrou alguém e que vai seguir em frente. E eu? Você sabe o que os escritores fazem de melhor: transformam a dor em palavras, quem sabe elas escorregam do peito e saem por aí. 


Abraços,
Gabriel

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