Campos do
Jordão, 22 de julho de 2014.
Roberta,
Hoje
faz um frio danado aqui em Campos. Precisei tirar as luvas, gorro e cachecol da
mala. Sentei naquela cafeteria que ficamos horas da última vez que viajamos pra
cá. A cidade está lotada de turista com seus celulares de última geração.
Quando estávamos aqui da última vez nos divertimos com o seu celular nada tecnológico
que rendeu boas fotos cortas, sem foco e luz. Trouxe alguma dessas fotos
comigo. Sei que você vai dizer. Não diga. Apenas escute (se puder fazer algo,
faça isso).
As
pessoas passam de um lado para o outro, vejo casais fazendo juras de amor
eterno. O brilho no olhar deles é incrível. Confesso, às vezes bate até uma
inveja. Sinto falta de ter alguém em meus braços, alguém para contar como foi
meu dia. Alguém para sair e pedir sempre o mesmo prato no mesmo restaurante.
Alguém para dizer o quanto meu trabalho é estressante. Sei que posso encontrar
uma pessoa assim, as pessoas estão sempre encontrando por aí. Talvez seja pelo
conceito de amor que eles têm. Eu acho que amor de verdade a gente só encontra
uma vez na vida. Aquele que sobe um frio na barriga e que o coração chega até
doer de tanto amor que ali tem.
Existem
amores, esse a gente acaba encontrando por aí como quem não quer nada, mas na
verdade estávamos procurando feitos loucos. O café fica gelado quando nos
esquecemos de tomar em determinados intervalos. Vi sua foto ontem. Você estava
linda, com os cabelos pretos caídos nos ombros, essa cor te caiu bem. Vi que
viajou. Vi que conheceu novas pessoas e até encontrou um novo amor. Eu também
conheci pessoas, fiz novas amizades e encontrei um possível amor. Só tenho medo
de ficar comparando a você. Como já disse, amor verdadeiro a gente só tem uma
vez na vida... Talvez encontre um amor que possa preencher 1% do coração e faça
valer a pena.
Eu sei,
você está pensando o quanto eu sou meloso e fico fantasiando por aí. Para você
a vida é tão prática, a gente conhece alguém, acha interessante e se conviver
por um tempo o amor cresce. Aí, se vale a pena casamos, construímos nossas
vidas. E levamos no peito o aperto de ter deixado aquele amor que realmente era
amor, que tirava os pés do chão e que sacudia a vida.
A vida
às vezes não nos dá segundas chances. Segundas chances disfarçadas de
terceiras, quartas, quintas, sextas, sétimas, oitavas... Às vezes ela nos dá
segundas, terceiras, quartas, quintas, sextas, sétimas e oitavas pessoas, para
gente tentar aceitar o que não conseguiu com a primeira. Acho que isso nos faz
ainda mais sentir falta daquela primeira pessoa.
O frio
está cortando meus lábios e é impossível escrever com luvas. Vou voltar ao
hotel. Espero que me responda. Diga que está feliz, que encontrou alguém e que
vai seguir em frente. E eu? Você sabe o que os escritores fazem de melhor: transformam
a dor em palavras, quem sabe elas escorregam do peito e saem por aí.
Abraços,
Gabriel
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