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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Porta Retrato

Ana se levantava todos os dias com o sol amarelado entrando pelas frestas da janela. Abria os olhos devagar, como se de alguma maneira, pudesse retornar ao mundo dos sonhos. Infelizmente, ainda continuava no mesmo lugar; no mundo real sem cor.

Corria até o banheiro e deixava a água gelada escorrer pela face, procurando sentir todas as sensações que aquelas pequenas gotas podiam oferecer. Abria sua gaveta, buscando encontrar ali as cores que lhe faziam falta naquela cidade cinzenta, de sonhos esquecidos. Não entendia muito bem porquê a vida era desse jeito, e onde foi que perdeu o rumo ou qual sonho se perdeu pelo caminho.

Fonte: We Heart It
Olhava para seu porta retrato favorito, que era o único ponto de luz do quarto que mostrava dois sorrisos felizes numa tarde esverdeada. Por um momento pequeno, conseguiu ver as cores ao seu redor: o brilho dos livros, do perfume e da caneca favorita, tudo isso antes que o mau humor matinal, tão rotineiro, voltasse a habitar seu corpo.

Não se recordava mais do porquê de tantas brigas e nem se elas faziam sentido agora, e se um dia fizeram. Talvez o problema fosse outro; o tom cinza do olhar, das conversas, dos abraços e dos beijos, diferentemente do calor que se irradiava de meses anteriores. Em algum momento o mundo parou de ser colorido para um dos dois, a fonte havia secado.

Deixou tudo ser empurrado pela barriga, na esperança de que um dia tudo voltasse a ser como antes. Apenas se esqueceu que a água que passa pelo rio nunca é a mesma, por esse motivo, deixou o tempo passar em seu compasso, passando por cima das mágoas, das tristezas e do choro. E ao mesmo tempo, tão perto e tão longe, o viu, se afastando a passos largos.


Antes que ele pudesse dar o passo final, tirou de seu casaco um lápis de cor, e coloriu o mundo dos dois, contornando em cada pedaço o brilho do sorriso daquele porta retrato. 

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