Hoje = ontem

Não acredito que muita coisa tenha mudado desde da última vez que nos falamos. Ainda não encontrei explicações que possam sustentar nossas discussões. Sei o que você deseja me encontrar ainda, o quanto deseja passar a noite acordada comigo pensando em nossos próximos movimentos.

Nos perdemos enquanto esperávamos aquele trem, você foi para um lado e eu para o outro. Nunca mais pudemos nos olhar profundamente nos olhos.

A quem culparíamos? A essa sociedade que a cada passo se torna mais moralista e conversadora? Não sei se a culpa seja apenas dela. Não tivemos força para lutar pelo o que acreditávamos, optamos por nos separar e tornar as coisas mais fáceis. No entanto, até que ponto podemos concordar que está sendo mais fácil assim?

Passo o dia inteiro dentro um porão escuro, tendo acesso a um precário computador com uma internet que funciona apenas quando tem sua própria vontade. Tenho que assinar textos com outros nomes e além disso me preocupar se meu IP não será rastreado. Enquanto vejo suas fotos ao lado do nosso inimigo, espalhando sorrisos, cada dia em um lugar diferente. Você realmente está lutando para fazer a diferença? Ou estou aqui lutando sozinha?

A sociedade diz que o que fazemos é errado e não atende as normas ditas por eles. Não sei porque simplesmente abaixamos a cabeça e concordamos com isso. Sei que sua família tem padrões tradicionais, mas talvez seja a hora de quebrá-los quando é a sua felicidade que está em jogo.

Não sei quanto tempo me resta até me descobrirem nesse buraco. Acredito que em breve mudarei de país e sinto que perdei a comunicação com você.

A única coisa que eu não entendo é porque seu marido, o presidente, prega amor enquanto ele mesmo silencia o nosso e enquanto isso ele coloca todo o país atrás de mim!

Quando poderemos gritar para sociedade que nos amamos e o quanto isso é bonito?

Sinto sua falta,

Suzi.