Ele
acordou do seu sono mais profundo, passou suas mãos pela cama, mas
não sentiu ali os cabelos jogados ao seu lado direito. Virou-se
bruscamente para esquerda à procura de seu Iphone, acendeu a
lanterna, o travesseiro ao seu lado encontrava-se vazio. Caminhou até
o banheiro na esperança de encontrá-la ali, levemente adormecida,
escovando seus dentes ou assoando o nariz de sua alergia matinal. O
banheiro continuava perfeitamente imóvel como sempre, resolveu
contar as escovas de dentes, só havia duas – a sua de uso diário
e da viagem. Nem ao menos vislumbrava o chinelo velho que ficava ao
lado do box. “Ela se foi?”
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Cumprimentou sua mãe que preparava o café metodicamente. Tentava se
lembrar do dia anterior, se era sexta ou sábado, se havia passado
pela rodoviária às 18h para esperá-la depois de um dia cansativo
de trabalho. Saiu em disparada à pequena biblioteca que ficava no
escritório da casa, talvez ela estivesse ali sentada folheando
alguns livros que levaria ou simplesmente tentando organizá-los.
Sentiu as mãos de sua mãe acariciando suas costas.
-
O que foi? – ela disse, mas seus olhos queriam dizer mais.
-
Onde ela está? – enquanto a procurava em todos os cômodos ao
redor.
-
Ela quem? - disse pacientemente.
-
A minha namorada, oras! – me exaltei. Como assim “quem”?
Minha
mãe sentou-se vagarosamente no sofá velho jogado no canto do
escritório ao passo que nossa cachorra pulava em seu colo. Escolhia
as palavras que já foram ditas tantas vezes. Molhou os lábios duas
vezes, me olhou profundamente:
-
Ela não vem mais, querido. Vocês não estão juntos há dois anos.
A sua namorada recente, desistiu de esperar você lembrar quem ela é.
A pessoa que você procura deve estar por aí, não sabemos em que
lugar, não temos contato. Não sei se seria bom você procurá-la.
Vocês não terminaram amigavelmente...
-
Mas, por quê? Eu terminei com ela? Por que eu não lembro de nada? –
o que foi que eu fiz?
-
Meu querido, - ela disse colocando as mãos em meu ombro – você
disse que não suportava mais as brigas e a distância. Você deixou
ela seguir seu caminho. Há três meses você sofreu um acidente e
perdeu sua memória. Os médicos dizem que ela pode voltar, mas
parece que você bloqueia qualquer fato recente. Você ficou alguns
dias internado, graças a Deus, mas só chamava por ela. Pensei em
ligar e dizer o que aconteceu, mas fiquei com medo de você me odiar
por isso...
-
Por que ela se foi? Por que eu não quis mais ficar com ela?
E
assim começa meu choro matinal ali no chão da biblioteca. Agora me
lembro que faço isso todas as manhãs e minha mãe pacientemente me
acalma em seus braços, apenas escutando eu repetir o mesmo discurso.
Depois, quando vencido pelo cansaço, ela me coloca na cama, deixando
ao lado alguma fruta ou um pão de queijo. Eu adormeço e sonho com
ela me dando o último beijo e tomando aquele ônibus, naquele dia
não quis esperar seu ônibus partir, e hoje, não vejo a hora desse
ônibus chegar...
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