-
Por que você o matou?
-
Ninguém fica te perguntando por que você respira, não é mesmo? Matar para mim é
uma necessidade. Eu preciso ver o sangue escorrendo e aquele olhar... – Ela
acendeu um cigarro - É um prazer inexplicável... Cada parte do meu corpo começa
a compartilhar daquela sensação de paz repentina.
-
Paz? – interrompeu a repórter.
-
Paz, do latim pax. Cada pessoa é diferente e os prazeres também
são. Aposto que você não é igual a todo mundo. Há algo em você que outras
pessoas não suportam, mas você se orgulha de ser assim. E não entendo porque o
mundo fica escondendo isso! Não suporto essa pose de politicamente correto.
A repórter
abriu a boca para comentar, mas sua voz foi abafada novamente pela mulher do
cigarro:
- O
ser humano devia se deixar levar por algumas sensações, não entendo porque se
culpam de tanta coisa. Pensar faz bem e conciliar isso com as sensações faz
melhor ainda. Ficam se escondendo em casulos tão profundos que acabam
esquecendo quem são e ficam parecendo um bando de robôs. – fez um breve silêncio – ah, a morte! Ela é magnífica
não acha? Todos nascem e morrem. O sangue é de uma cor tão bonita e viva. Não sou
tão ligada em torturas... Prefiro uma morte rápida. Gosto de facas. Facas fazem
uma morte sensacional. Venenos também me atraem. Posso te ver agora caindo para
o lado nesse sofá velho. Sua água está boa?
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Não
houve resposta, a repórter caiu levemente no sofá velho, vermelho desbotado.
Sua caneta caiu no chão e seu bloco foi arrecado cuidadosamente de sua mão. Foi
conferida cada palavra que fora escrita:
-
Amadores. Sempre mudam o sentido. Farei as correções necessárias. A morte não é
tão trágica assim. – tirou a echarpe verde que cobria o pescoço da jovem e
colocou cuidadosamente num baú velho onde havia diversas peças: óculos,
canetas, livros, chapéus, brincos, colares e até uma garrafa de bebida alcoólica.
Sentou
na janela, acendeu mais um cigarro e ficou olhando o dia que ia embora. Deu um
gole demorado em seu café. Tenho que me
livrar desse corpo.
Batidas
leves na porta. Apagou desesperadamente o cigarro, olhou-se no espelho, gritou:
-
Quem é?
- Um
amigo.
Abriu
cuidadosamente a porta. Ele a abraçou fortemente:
-
Quando vai parar com isso? Eu sei que ela publicou uma matéria horrível sobre
você semana passada acusando de ter matado todos seus ex-maridos. Mas você sabe como o sensacionalismo da mídia
é. Você apenas livrou cada um deles de viver naquela merda de vida que eles
levavam. – Sua voz foi ficando fraca e seus olhos embaçados.
Ela
disse em voz alta enquanto tirava a faca de seu coração:
- Eu
não preciso que digam o que fazer, eu sei muito bem o que eu quero. Eu sei meus
objetivos. Não me diga o que fazer!
Adoro os seus contos! Fato!
ResponderExcluirEste, em especial, me lembrou o último livro do Jô Soares, "As Esganadas"... Já leu?
Um beijo,
Fê
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Ela realmente deveria conversar com o cara do Ossos Quebrados, vou postar a entrevista dele um dia, vc vai ver eles dariam um casal lindo XD
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