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sábado, 7 de abril de 2012

Pax


- Por que você o matou?

- Ninguém fica te perguntando por que você respira, não é mesmo? Matar para mim é uma necessidade. Eu preciso ver o sangue escorrendo e aquele olhar... – Ela acendeu um cigarro - É um prazer inexplicável... Cada parte do meu corpo começa a compartilhar daquela sensação de paz repentina.

- Paz? – interrompeu a repórter.

- Paz, do latim pax.  Cada pessoa é diferente e os prazeres também são. Aposto que você não é igual a todo mundo. Há algo em você que outras pessoas não suportam, mas você se orgulha de ser assim. E não entendo porque o mundo fica escondendo isso! Não suporto essa pose de politicamente correto.
A repórter abriu a boca para comentar, mas sua voz foi abafada novamente pela mulher do cigarro:

- O ser humano devia se deixar levar por algumas sensações, não entendo porque se culpam de tanta coisa. Pensar faz bem e conciliar isso com as sensações faz melhor ainda. Ficam se escondendo em casulos tão profundos que acabam esquecendo quem são e ficam parecendo um bando de robôs.  – fez um breve silêncio – ah, a morte! Ela é magnífica não acha? Todos nascem e morrem. O sangue é de uma cor tão bonita e viva. Não sou tão ligada em torturas... Prefiro uma morte rápida. Gosto de facas. Facas fazem uma morte sensacional. Venenos também me atraem. Posso te ver agora caindo para o lado nesse sofá velho. Sua água está boa?

http://weheartit.com/entry/26171214

Não houve resposta, a repórter caiu levemente no sofá velho, vermelho desbotado. Sua caneta caiu no chão e seu bloco foi arrecado cuidadosamente de sua mão. Foi conferida cada palavra que fora escrita:

- Amadores. Sempre mudam o sentido. Farei as correções necessárias. A morte não é tão trágica assim. – tirou a echarpe verde que cobria o pescoço da jovem e colocou cuidadosamente num baú velho onde havia diversas peças: óculos, canetas, livros, chapéus, brincos, colares e até uma garrafa de bebida alcoólica.

Sentou na janela, acendeu mais um cigarro e ficou olhando o dia que ia embora. Deu um gole demorado em seu café. Tenho que me livrar desse corpo.

Batidas leves na porta. Apagou desesperadamente o cigarro, olhou-se no espelho, gritou:

- Quem é?

- Um amigo.

Abriu cuidadosamente a porta. Ele a abraçou fortemente:

- Quando vai parar com isso? Eu sei que ela publicou uma matéria horrível sobre você semana passada acusando de ter matado todos seus ex-maridos.  Mas você sabe como o sensacionalismo da mídia é. Você apenas livrou cada um deles de viver naquela merda de vida que eles levavam. – Sua voz foi ficando fraca e seus olhos embaçados.

Ela disse em voz alta enquanto tirava a faca de seu coração:

- Eu não preciso que digam o que fazer, eu sei muito bem o que eu quero. Eu sei meus objetivos. Não me diga o que fazer!

2 comentários:

  1. Adoro os seus contos! Fato!

    Este, em especial, me lembrou o último livro do Jô Soares, "As Esganadas"... Já leu?

    Um beijo,

    http://escritoshumanos.blogspot.com.br/
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  2. Ela realmente deveria conversar com o cara do Ossos Quebrados, vou postar a entrevista dele um dia, vc vai ver eles dariam um casal lindo XD

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