Revelando

Milena estava deitada em sua cama, sentia que sua morte se aproximava. Era incrível como uma mulher forte adoecesse tão rapidamente. Fernanda, sua amiga de longa data, veio para uma visita. Foram confidentes por muito tempo, apenas a distância promoveu uma troca de assuntos supérfluos e não profundos como antigamente:

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- A França é mesmo incrível, Milena! Não entendo como pode adoecer num país tão maravilhoso como este?! E também porque nunca arrumou nenhum marido dentre esse homens tão elegantes e educados...

- A culpa, minha querida. O sentimento de culpa nos impede de fazer muitas coisas, não nos deixa ser feliz completamente. Eu sempre me culpei por ter impedido a sua felicidade...

- A minha felicidade? Oras eu sou feliz! Do que você está falando?

- Eu sempre o amei. Na verdade o amei por um tempo. Foi um sentimento que fugiu do meu controle, eu sempre consegui controlar tudo na minha vida e isso me desafiava. Os dois nunca tiveram coragem suficiente de assumir o que sentiam pelo outro. Sempre nos envolvíamos com outras pessoas, envolvíamos pessoas que não mereciam sofrer por nossos medos. 

Passaram cinco anos para que entendêssemos que nos amávamos e deixamos o tempo passar. Foi um amor intenso, ao meu ver, que se manifestou da forma mais pura e doce. Então você apareceu e se apaixonou perdidamente por ele. Nem por um minuto parou para se perguntar se ele já tinha uma história e se queria viver ela... Ofereceu carinho e proteção para uma alma desamparada.

- Eu o amei!

- Não, foi uma paixão. Amor é quando ambas pessoas sentem o mesmo pela outra. Ele nunca te amou de verdade! Ele a usou para tampar os buracos que havia em seu coração e fez isso sem ter consciência. Talvez até para preencher a minha ausência. E você se orgulho disso, ahh o ser humano é tão egoísta! Ele também teve muitos conflitos e culpas, se envolveu com mais pessoas... E tentou remedia-la da melhor maneira que encontrou... Mas nunca sabemos se isso é realmente bom para o próximo.

- Se vocês gostavam um do outro porque não ficaram juntos?

- Porque eu nunca achei que valeria a pena. Eu não queria gostar dele, ainda mais quanto percebi o quanto você havia se envolvido. Parecia que eu estava privando-a do que era seu por direito. Mas acredito que nunca foi seu de verdade...

- Eu nunca percebi...

- Claro que percebeu, você nunca quis enxergar realmente, no fundo do seu coração você sabia que havia algo forte entre eu e ele. Um amor construído por anos, que foi se alimentando pouco a pouco. Eu impedi ele de acontecer uma vez, eu fiz outra escolha. E quando estava prestes a ter uma segunda chance, renunciei por você. Acredito que ele nunca tenha aceitado isso muito bem. Eu estava sempre pedindo a ele que a fizesse feliz. Acredito também que ele desejava que tentássemos e jogaria tudo pro alto se fosse preciso, mas o meu sentimento de culpa não deixaria. Afinal não queria roubar a felicidade, mesmo que ela fosse momentânea.

- E porque me diz isso tudo agora?

- Porque acredito que só agora você tem maturidade suficiente para entender. A gente não escolhe por quem vamos amar. Isso simplesmente acontece e também não escolhemos ser correspondidos...

- Milena? Milena?

Fernanda limpou a última lágrima de Milena e disse que entendia agora. Entendia que para ser feliz não basta escolher quem ser quer ao seu lado, mas também tem que ser escolhida. Afinal felicidade momentânea não é felicidade eterna.